Enquanto todos dormiam ele permanecia acordado, seus olhos estavam fechados, mas sem qualquer vestígio de sono. Os meninos dormiam numa casa em separado das meninas e dos pais, o irmão mais velho roncava igual a um porco bem ao lado de onde se deitava e sequer se dava conta que a pobre criança era atormentada pelo profundo medo daquele silêncio noturno e estarrecedor. Suas madrugadas costumavam ser feitas de pavor pelas visitas quase constantes dos que atravessavam a cortina do inferno para lhe atormentar. Cada qual se apresentava diante de seus olhos espirituais de uma maneira mais horrenda. Ao se aproximarem sentia seu corpo como anestesiado, gelava por inteiro e parecia estar saindo do plano atual de vida para outra dimensão, onde podia ver visivelmente a todos os seus visitantes, cada um da maneira mais monstruosa possível. Ali tinha uma mulher vestida de prostituta que bebia e fumava sem parar, ela disse que após sua fase adulta iria incitá-lo a viver preso a todas as formas de drogas. O homem magro e alto, vestido por uma farda de militar, verde cor de abacate e toda rasgada, achava graça sem parar e não parava de fazer cócegas nos seus pés.