Quando o conheci bebíamos cachaça pura e cuspíamos restos de revolta. Andávamos a pé e translúcidos por debaixo das mangueiras, pelas ruas de uma cidade ainda romântica de tanto silêncio... Os ecos de passos nas madrugadas eram nossos com certeza! Algumas cordas de violão e uma flautinha de adoçar a lua e pronto! Vivíamos!Nunca o vi em cenas comuns. Sempre foi assim. Arremessado a metros de altura por um atropelamento, dormindo com cães de rua, arrastando uma multidão no carnaval com apenas um trombone, limpando os restos de fantasias derramadas do povo na quarta-feira de cinzas, na cama de um hospital em estado terminal rindo de um câncer, morto de amor e vivendo.Desculpem os demais! É que prefiro os poetas que sangram! Poetas não roubam o povo, eles pedem emprestado um pouco de vida, um pouco dos caminhos, um pouco de esperança. Dizem o amor às avessas e morrem para os comuns e ignorantes.O Obdias Araújo é a cristal canção da dor da vida, o mensageiro portador das cartas de Alcy Araújo para Belém num tempo em que escrevíamos cartas, longas cartas aos amigos distantes. Depois dos pombos e dos falcões do deserto éramos os melhores mensageiros.Agora que li estes teus versos, meu amigo Obdias, relembrei o porquê do estarmos aqui.Viemos procurar dores de amor num baú que Deus esqueceu na terra.Devolveremos dizendo: Senhor! eis o que pedistes que procurássemos. Sofremos, mas achamos!Osmar JuniorOsmar Junior é cantor, poeta e compositor amapaense.